1 O Mulato Observemos, com atenção, as principais correntes científicas da época. Evolucionismo – Darwinismo / Seleção Natural Positivismo – Augusto Conte – teoria cientifica que defende posturas exclusivamente materialistas e limita o conhecimento das coisas apenas quando estas podem ser provadas cientificamente. A realidade é apenas aquilo que vemos, pegamos e podemos explicar. Essa teoria é totalmente contraria as teorias metafísicas. Socialismo Científico – Karl Marx e Engels. Estimula as lutas de classe e a organização política do proletariado. É uma resposta da exploração do operariado nas indústrias e nos grandes centros urbanos. Nessa teoria Marx e Engels mostram o quanto o aspecto social está vinculado ao processo econômico e político. Determinismo – Homem é fruto do meio, da raça e do momento histórico. Experimentalismo – Não se deve afirmar nada antes de ser comprovado. II. O Movimento Literário Método de experimentação da realidade Interpretação biológica (fora para dentro) Toma como base o coletivo Cria o romance experimental (de tese) Retrata o universo exterior dos grupos humanos: os vícios, as taras, as patologias e anormalidades reveladoras do parentesco entre o homem e o animal, etc. Tem maior preocupação em retratar os “fatos da vida” Predomínio da descrição Contenção emocional: os prosadores desse período pretendem uma suposta “posição neutra” (imibilidade) diante do fato relatado. O tratamento dos temas a partir de uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literalmente os textos. III. O Autor e a Obra • aproximação com o falar português e os arcaísmos(Maranhão) • crítica à hipocrisia da vida provinciana parece também decorrente do fato de que a sociedade conservadora de São Luís hostilizou duramente os pais de Aluísio, que não eram casados e viviam juntos. Em O Mulato, Aluísio parece vingar-se de São Luís. • A técnica do pintor e do caricaturista que Aluísio desenvolveu, posto que sua primeira inclinação fosse para as artes plásticas, reflete-se na capacidade de, através da escrita, "visualizar" rapidamente as personagens e cenas, captando, de imediato, seus traços mais exteriores. Se, por um lado, essa propensão para a caricatura faz as personagens de Aluísio bastante esquemáticas, reduzidas a "tipos", sem profundidade psicológica, por outro, possibilitou ao autor movimentar em seus romances centenas de tipos, habilitando-o para o romance de coletividade, de multidão.
2 • romance de coletividade • obra heterogênea: alterna romances naturalistas de vigor crítico e estofa cientificista, com melodramas românticos, publicados em folhetins pela imprensa, e que foram, durante algum tempo, o ganha-pão do autor. Romance social: nos livros melhor realizados, revela extraordinário poder de dar vida aos agrupamentos humanos, às habitações coletivas, onde os protagonistas vão, social e moralmente, se degradando, por força da opressão social e econômica e dos impulsos irreprimíveis da sexualidade, das taras e vícios. Visão rigorosamente determinista do homem e da sociedade, submetidas às leis inexoráveis da raça (instinto, hereditariedade), do meio (geográfico, social) e do momento (circunstâncias históricas). Influências de Eça de Queirós e Émile Zola. Utilizou a técnica do tipo, deformando, pelo exagero, os traços, criando verdadeiras caricaturas. Não conseguiu criar personagens que pudessem transcender às condições sociais que as geraram. As personagens são psicologicamente superficiais e subsistem apenas em função de contextos predeterminados. Não há o drama moral, os protagonistas são vistos "de fora", e a tragédia em que as tramas desembocam, decorre apenas do fatalismo das doutrinas deterministas. Não há o refinamento estilístico de Machado de Assis, nem a potência verbal de Raul Pompéia; mas os diálogos se salvam pela vivacidade, pela frase sempre incisiva. Há visível tendência lusitanizante pelo emprego de arcaísmos e palavras "portuguesas", o que se explica pela origem luso-maranhense do autor. IV. O Enredo Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo viajava órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe, Domingas, uma ex-escrava do pai. Depois de anos na Europa, Raimundo volta formado para o Brasil. a um ano no Rio e decide regressar a São Luís para rever seu tutor e tio, Manuel Pescada. Bem recebido pela família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua prima Ana Rosa que, em dado momento, lhe declara seu amor. Essa paixão correspondida encontra, todavia, três obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com um dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher racista e de maus bofes; o do Cônego Diogo, comensal da casa e adversário natural de Raimundo. Todos três conheciam as origens negróides de Raimundo. E o Cônego Diogo era o mais empenhado em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai do jovem.
3 Foi assim: depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da Silva, casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção particular que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais. Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto. Invadindo-o, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo em pleno adultério. Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo Diogo como testemunha. Graças à culpa do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece. Algum tempo depois, já restabelecido, José Pedro resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, devagarzinho, o Padre Diogo começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada. Raimundo ignorava tudo isso. Em São Luís, já adulto, sua preocupação básica é a de desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tio em visitar a fazenda onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo começa a descobrir os primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de Ana Rosa. Depois de várias recusas, Raimundo fica sabendo que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele. De volta a São Luís, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta a Ana Rosa seu amor, mas acaba não viajando. Apesar das proibições, Ana Rosa e ele concertam um plano de fuga. No entanto, a carta principal fora interceptada por um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel Pescada e forte pretendente, sempre repelido, à mão de Ana Rosa. Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o escândalo, do qual o cônego é o grande regente. Raimundo retira-se desolado e, ao abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, o caixeiro Dias assassina o rival. Ana Rosa aborta. Entretanto, seis anos depois, vemo-la saindo de uma recepção oficial, de braço com o Sr. Dias e preocupada com os "três filhinhos que ficaram em casa, a dormir". V. Aspectos relevantes É apontado como a obra inaugural do Naturalismo no Brasil (1881). Podem ser identificados alguns elementos naturalistas:
4 A Crítica social, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luís: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco. Já dissemos que esses tipos são, muitas vezes, pessoas que realmente viveram em São Luís, conhecidas pelo autor. Anticlericalismo projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino. Oposição ao preconceito racial, que é o fulcro de toda a trama. O Aspecto sexual, referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo. O Triunfo do mal, já que, no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos são gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o Pe. Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego. Contudo, há fortes resíduos românticos: Escrito em plena efervescência da Campanha Abolicionista, Aluísio Azevedo não manteve a postura neutra, imparcial, que caracteriza os autores realistas/naturalistas. Ao contrário, ele toma partido do mulato, do homem de cor, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos romances românticos (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua condição de homem de cor). Observe que Raimundo é cientificamente inverossímil (filho de pai branco e mãe negra retinta, o filho tem "grandes olhos azuis, cabelos pretos e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina"). A trama da narração é romântica e desenvolve o velho chavão romântico da história de amor que as tradições e o preconceito impedem de se realizar. Além disso, a história é verdadeiramente rocambolesca (= complicada, "enrolada").